sábado, outubro 03, 2015

MALITOLA

Em meu perfil do Facebook gosto de exercer o meu lado "criança de 45 anos", "terapia" que me relaxa e me deixa com mais disposição para cuidar de assuntos mais sérios fora da internet. Todo mês de outubro, brinco com fotos antigas e aproveito para contar histórias de minha infância. Apesar de não ter mais ninguém comentando neste meu canto, eu tenho muito carinho por ele. Sendo assim, copiarei aqui as histórias que vou compartilhar lá no Face.

Vamos à primeira, quando eu tinha mais ou menos a idade em que estou nessa foto.

Passei a grande maioria dos finais de semana da minha infância no sítio dos meus avós, em Itatiba. Boa parte da viagem pela Rodovia Anhanguera, com suas duas únicas pistas. Na década de 70 tínhamos bem menos carros que hoje em dia, mas mesmo assim muitas vezes pegávamos um congestionamento enorme.

Eu sempre tive muito problema de enjoo e quando pequena era pior. Tínhamos um pediatra maravilhoso, o Dr.Saldiva que, consultado pela minha mãe, receitou um bom remédio para o meu problema: distração. "Vocês gostam de cantar, não é? A Luciana gosta de música, certo? Cantem durante a viagem que ela não vai enjoar." E assim tínhamos todo um repertório, que passava pelas músicas dos Demônios da Garoa, todas as infantis, "My Bonnie Lies Over the Ocean" e outras coisinhas. Desde que cantássemos sem parar, eu não enjoava. E viajávamos em paz.

Ou quase.

Porque em um determinado fim de tarde, eu lá com meus dois ou três anos, consegui voltar chorando sem parar quase que todo o trajeto Itatiba-São Paulo em uma viagem pra lá de congestionada. Tudo isso porque eu queria que a minha mãe cantasse a "Malitola". É claro que ela não fazia ideia a que música eu estava me referindo e foi tentando todas que sabia. A cada música que ela errava, eu chorava mais alto. Existe uma lei do destino que diz assim: "se em uma viagem pra lá de longa sua filha resolver chorar por conta de uma música que você desconhece, você só descobrirá a bendita música no final de sua viagem." Já havíamos entrado em São Paulo quando a mamãe descobriu. Já em desespero, ela começou:

- Um pobre pelegrino que anda de porta em porta pedindo uma esmola, pelo amor de Deus...
- É essa, mamãe!!! A Malitola!
- Mas onde tem Malitola, Lu?
- Ué, mamãe: um pobe peleguino que anda de póta em póta pedindo "Malitola" pelamôdeDeus.

Porque, pela minha lógica de criança pequena, eu amava a música que era em homenagem à minha prima Maria Paula, ou "MaliPola", como eu conseguia chamá-la.

Para quem ficou com pena de meus pais, anos depois eles foram vingados. Outra lei do destino é que o que aprontamos durante nossa infância será retribuído no futuro, através de filhos, sobrinhos, netos, etc. E nós sofremos em umas duas horas de congestionamento entre o bairro de Vila Olimpia, Zona Sul, e Vila Formosa, Zona Leste, com a nossa filha mais velha chorando a plenos pulmões que queria que nós tocássemos a música dos moços com as pessoas felizes. Que, depois de quebrarmos muito a cabeça, descobrimos que era "Shinny Happy People" do R.E.M.

sexta-feira, outubro 02, 2015

HISTORINHA

Era uma vez uma arca de madeira. Desculpem o trocadilho, mas essa arca de madeira sempre foi pau pra toda obra. Sustentou por anos uma TV Telefunken 26 polegadas. Guardou rascunhos de desenhos e muitas pinturas da minha avó. Depois, vindo pra minha casa, guardou minhas malhas por anos e agora, voltando à sala, guarda cadernos de desenho, LPs e afins.

Pois bem, além da arca de madeira ser pau pra toda obra, seu outro destino sempre foi ter seus cantos roídos por todos os cachorros que tivemos em casa. Não tenho cachorro em meu apartamento. Portanto, quem resolveu assumir a função de roer o que sobra dos cantos de minha arca é Bolívar, meu calopsito arteiro.

Foi assim que ontem á tarde eu afastava meu pestinha amarelo dos cantos da arca enquanto tentava conversar com minha mãe no telefone. Ela, por sua vez, estava tentando que a gata, que estava caçando uma lagartixa, que por sua vez tentava caçar pernilongos, não derrubasse toda a papelada da mesa e o monitor do computador.

Conclusão: o que pode ser considerado doido por alguns é o normal em nossa família.