domingo, maio 08, 2011

A PEIXOLÂNDIA

Início da década de 1970. Era uma típica família paulistana, pai e mãe jovens e a primogênita, na época filha única, com uns três anos de idade. E, não sei se foi em alguma feira, festinha ou o que, a Menina ganhou um aquário com peixinhos.

Como toda criança, ficou encantada. Aqueles bichinhos eram lindos, nadando de um lado pro outro, de um lado pro outro. E deviam ficar bem cansados de fazer aquilo, então para preencher o tempo, a Menina os alimentava. Esses peixes tinham muita fome, era só colocar comida que eles nadavam até ela e acabavam com tudo. A Menina, prontamente, os abastecia com mais alimento, para que eles ficassem bem felizes. E por isso mesmo não entendeu a razão deles morrerem no dia seguinte. No alto dos seus três anos, não tinha como saber que enquanto há comida o peixe come. E que, se ele não para de comer, eventualmente estoura.

A Menina chorou muito. Não queria que seus preciosos peixinhos fossem retirados do aquário. E a jovem Mãe, num rasgo de inspiração que só surge em mães em via de desespero, saiu-se com essa:

- Lu querida, os peixinhos não podem ficar no aquário. Eles precisam ir pra Peixolândia, que é onde fica o céu dos peixes...

- "Pexolândia"? E o "pexinho" vai lá "po" "xéu" dele?
- Vai sim, filha, mas tem um lugar aqui em casa onde o caminho é mais rápido.

A Menina parou de chorar. Ela e a Mãe prepararam uma cerimônia muito bonita para os peixinhos falecidos, e os despacharam para a Peixolândia, cujo caminho mais rápido era através do vaso do banheiro.

E, assim, a Menina só voltou a ter peixes depois que teve idade para cuidar direito deles. Depois de casada, deixou a cargo do Marido, que tem mais paciência que ela. E a Peixolândia ficou na história, principalmente quando a Menina já crescida tornou-se mãe e também teve que ter seus rasgos de inspiração para sair de saias justas com as filhas.

Assim fica a homenagem à minha mãe e à sua inspiração súbita de me consolar com a história da Peixolândia. Hoje em dia só posso estar com ela, pessoalmente, poucos dias por ano e penso nela e no papai todos os dias do ano, mas hoje não poderia deixar de passar por aqui e deixar um beijo especial... Mãe querida, te amo demais, viu???