quinta-feira, março 25, 2010

O BOTÃO DE PACIÊNCIA

Essa história surgiu durante os meus meses de senzala, ano passado. Stress puro, todo dia, das 13:00 às 22:00. E em um dia particularmente cansativo, numa conversa com o rapaz que trabalhava ao meu lado, comentamos o quanto seria bom se existisse em cada um de nós um botão de paciência, que seria ajustado em vários módulos, que variariam de "Rambo" a "Dalai Lama". No caso, o módulo "Rambo" seria para aqueles momentos agradáveis em que você tem que tomar atitudes extremas, como com aquele operador de telemarketing que liga pra sua casa às oito da manhã de um domingo te empurrando um seguro de vida do seu banco, onde só "estará sendo" cobrado de você o módico valor de R$34,99 por mês. No outro extremo, o módulo de paciência "Dalai Lama" seria para te deixar bem zen, mesmo se explodisse o seu local de trabalho ou o seu chefe achasse defeito em uma cena que você checou dez vezes e sabe que está perfeita.

Confesso que muitas vezes eu procurei ajustar o meu botão de paciência no módulo "Dalai Lama". E funcionou razoavelmente bem. Mesmo quando saía da senzala e, depois de conseguir pegar no sono de madrugada, sonhava com todo o trabalho que tinha feito. Aliás, o módulo "Dalai Lama" funcionou tão bem que uma bela noite, após as meninas terem ido dormir às dez da noite, finalmente eu estava relaxada a ponto de, junto com o maridão, encostar a cabeça no travesseiro e apagar para uma bela noite de sono antes das onze... até ser acordada à 1:30 da madrugada pelo toque do meu interfone e ouvir do meu porteiro que a minha querida vizinha estava reclamando do barulho daqui de casa. Pra quê? O meu botão da paciência quebrou, saltou do módulo "Dalai Lama" para um novo chamado "Jack, o Estripador". Eu pedi que meu porteiro interfonasse de volta à minha vizinha e... bem... acho que atrapalhei o almoço dos japoneses lá em Tóquio com os meus gritos.

Mas, pelo menos, a quebra do meu botão da paciência serviu para alguma coisa. Foi motivo de conversa entre os porteiros, que em 14 anos nunca haviam visto a "Dona Luciana" ficar nervosa , e também serviu para a minha vizinha ficar mansa por alguns meses.

Por essas e outras que, depois das vassouradas no meu chão na semana passada, espero, mas espero MESMO não ser acordada outra vez por conta de barulho que não fiz. Pois da próxima vez meu botão da paciência é capaz de passar para a modalidade "Átila, o Huno". E aí vão ouvir os meus gritos até da Estação Espacial Internacional...

sexta-feira, março 19, 2010

MINI-POST

Esta madrugada aquela vizinha de baixo que há uns tempos passou quatro meses reformando o apartamento com uma furadeira marretou outra vez o meu chão com um cabo de vassoura para reclamar de barulhos que não estávamos fazendo.

Já ignorei. Já briguei. Nada adiantou. Vou partir para a ignorância e comprar tamancos holandeses pra sapatear no teto da minha vizinha da próxima vez que ela vassourar o meu teto.

Assim, pelo menos, ela poderá reclamar com motivo...

sábado, março 13, 2010

O TEMPO E O VENTO - versão 2010

(já pedindo permissão ao grande Erico Verissimo...)

Bibiana Terra era uma linda solteira até o dia em que o Capitão Rodrigo Cambará chegou no pedaço. Todos os dias ele cantava no ouvido dela, se exibia, fazia cafunezinho... até que a Bibiana não resistiu e eles acabaram consumando o seu amor. Que, com o tempo, acabou gerando três lindos frutos: Bolívar, Maria Valéria e Clarissa.

E assim, a família Terra-Cambará foi vivendo os seus dias, que foram relativamente felizes até o Bolívar atingir a idade adulta, quando então desenvolveu um verdadeiro complexo de Édipo e passou a paquerar a mãe. Sim, gente, porque nesta versão do romance, a paixão de Bolívar por Bibiana corre solta! Ele virou um galanteador igual ao pai e não pode ver a mãe sair para passear que já via pra cima dela, com olhares lascivos. E canta para ela... e dança... e tenta fazer cafunezinho... Mas Bibiana Terra-Cambará é fiel, ela só tem olhos para o seu marido, Capitão Rodrigo, que de vez em quando se enche das cantorias e investidas de seu filho e o expulsa a bicadas de cima da prateleira.

Pois é. O certo seria, nessa altura do campeonato, eu arrumar uma companheirinha para o Bolívar, aí talvez quem sabe ele deixasse de paquerar a mãe. Mas já tenho cinco calopsitas num apartamento de 72m2, se arrumar mais uma, é capaz do maridão me atirar do 17º andar com gaiolas e tudo.

Mas já decidi: num futuro, procurarei romances com personagens menos galanteadores para "batizar" meus pássaros...

segunda-feira, março 01, 2010

VOLTANDO PRA CASA...

Pois é. O tempo passa, este blog ficou praticamente às moscas e, de todas as mudanças que aconteceram nesse período, acho que a mais drástica se deu com as minhas filhas. Lá nos primórdios do EEEPA, eu tinha duas crianças. Agora, tenho uma adolescente e outra que pretende ser. Até o ano passado, ambas estudavam na mesma escola, aqui perto de casa, e já iam sem acompanhamento dos pais, mas, neste último ano, a Juliana passou a pegar ônibus para cursar o Ensino Médio em seu novo colégio, o que nos deixou com a incumbência de começar a treinar a Vanessa para voltar sozinha para casa.

Quem já passou por essa adaptação com os filhos, sabe como é. Quem ainda não passou, deve se lembrar de como foi quando chegou nessa fase: a cada dia os pais combinam de se encontrar com seus filhos em um ponto diferente, até que se sintam seguros de libertar seus rebentos de baixo de suas asas e os deixem soltos por aí. Foi assim aqui em casa com a Juliana, e tem sido assim com a nossa caçula. Nos primeiros dias, eu a pegava no portão da escola, mas depois comecei a combinar com ela os novos pontos de encontro:

- E aí, Vanessa, onde você quer que eu te encontre hoje? Na esquina de escola?
- Não, mãe... ainda é longe.
- E onde que você quer então?
- Ah! Pode ser encostada no muro da escola, no meio do caminho entre o portão e a esquina?
- Tá bom.

Uns dois dias depois a própria Vanessa me pediu:
- Mãe!!! Não precisa mais me esperar no meio do caminho, agora pode ser na esquina, viu?
- Tá.

E continuamos assim: a cada dia eu perguntava, e o nosso ponto de encontro foi mudando: pra esquina do outro lado da rua do muro da escola, depois a esquina já mais longe da escola... no meio da calçada entre essa esquina e a outra esquina... Até que hoje, finalmente, eu a vi atravessar em segurança a rua mais movimentada que tem para chegar aqui em casa. Eu estava no meio da calçada entre essa rua e a minha, e perguntei:

- E aí, Vanessa, continuo te esperando aqui ou você quer me encontrar mais longe?
- Já pode ser um pouquinho mais longe, mãe.
- Esse pouquinho mais longe é na esquina daqui de casa?
- Não, mãe! Pode ser mais longe ainda!!!
- Ué, mas o ponto mais longe ainda que resta então é eu ficar dentro de casa e te esperar lá!
- Isso mesmo, mãe! Eu quero que você me encontre em casa!!!

Minha caçulinha está crescendo...